Bruno Lage: O que esperar do treinador português no Wolverhampton?
Por: Bruno Bezerra
Após a saída de Nuno Espírito Santo ao final da temporada 2020/21, o Wolverhampton anunciou na última quarta-feira (9), a chegada de Bruno Lage, que buscará dar continuidade ao trabalho de quatro anos do seu compatriota Nuno, iniciado ainda na Championship e que culminou com o clube consolidado na Premier League, com direito a uma participação na Uefa Europa League.
Quem é o jovem treinador que guiou o Benfica a um título português até então improvável? Quais suas filosofias de jogo e como ele pode agregar ao clube na Premier League? É o que iremos destrinchar nesse texto.
Carreira modesta como jogador, categorias de base e auxiliar técnico
Nascido na cidade de Setúbal, em 12 de maio de 1976, passou por apenas dois clubes em sua carreira como atleta profissional: UCRD Praiense e o Quintajense, ambas amadoras. Antes disso, já havia iniciado sua carreira como treinador aos 21 anos, trabalhando nas categorias de base do Vitória de Setúbal.
Em 2004 chegou ao Benfica para trabalhar com a juventude. Essa palavra será lida bastante no texto, visto que Lage tem como marca o trabalho com jogadores jovens em sua carreira. Ruben Dias, Bernardo Silva, João Cancelo, Helder Costa e Ivan Cavaleiro foram alguns dos jovens que trabalharam com o treinador. Após sair em 2012, assumiu as equipes de base do Al Ahli dos Emirados Árabes e foi por lá que conheceu uma figura importantíssima em sua carreira: Carlos Carvalhal. Os dois publicaram um livro juntos: Football-Developing a Know How.
Então treinador do Besiktas chegou ao futebol inglês em 2015, para comandar o Sheffield Wednesday, após 3 anos sem treinar nenhum clube e levou Lage para trabalhar como seu auxiliar. Os Owls conseguiram resultados interessantes, como a decisão dos playoffs da Championship na temporada 2015/16 e semifinais na temporada seguinte. Após suas demissão do clube de Yorkshire, assumiu um desesperado Swansea e não evitou o rebaixamento na temporada 2017/18 na Premier League. Era o fim da parceria entre Lage e Carvalhal, sem ressentimentos.
Carlos Carvalhal me colocou no futebol inglês e sou muito grato a ele. Temos uma grande amizade, em nosso período no Sheffield Wednesday havia muita autonomia entre nossas ideias. Ele conseguiu tirar o melhor de mim, contribuindo para que eu evoluísse como treinador profissional.(Bruno Lage)
Retornando ao Benfica B, foi o responsável pelo desenvolvimento de muitos atletas, um em especial foi João Felix. A joia do futebol português, vendida ao Atletico de Madrid, foi fruto do trabalho dele na base do clube.
Janeiro de 2019: O primeiro grande desafio de Bruno Lage
O Benfica era apenas o quarto colocado na temporada 2018/19 e corria risco de ficar de fora até das competições europeias. Após uma derrota para o Portimonense por 2 a 0, o então treinador do Benfica B teria sua primeira missão: assumir o time principal em meio a um cenário não muito animador.
Em seis meses, guiou os Encarnados ao seu 37º título português, sem sofrer nenhuma derrota na Primeira Liga, com aproveitamento impressionante de 94%. Apesar das eliminações nas Taças Nacionais, o time ainda fez uma campanha decente na Uefa Europa League, caindo nas quartas de final para o Eintracht Frankfurt (em confronto que teve hat trick de João Felix no jogo de ida, sendo o mais jovem a alcançar o feito).
Na sua segunda temporada, Bruno Lage não conseguiu repetir o sucesso dos seus primeiros meses no Benfica. Após uma sequência de duas vitórias em 13 rodadas, deixou o clube no mês de junho de 2020, sendo substituído pelo seu auxiliar Nelson Veríssimo. Após um ano sabático, retornará comandando o Wolverhampton.
Atenção aos jovens, motivador e adepto do 4–4–2
Em entrevista a Record, João Cancelo, hoje jogador do Manchester City e que trabalhou com Lage no Benfica, afirmou que o treinador é motivador e tem uma figura extremamente paternal com seus atletas.
Foi o treinador que mais me marcou na formação. Tínhamos uma relação de pai e filho. Ele (Lage) era quase meu pai. Puxava-me as orelhas e me colocava na linha.(João Cancelo)
O experiente jogador David Jones, que mais recentemente defendeu o Oldham Athletic, trabalhou com Lage no Sheffield Wednesday e o definiu como um apaixonado pelo futebol.
Fora de campo, ele era bem quieto. Mas quando falava de futebol, era sempre de maneira apaixonante. Ele vivia o jogo, entusiasmado e sempre muito motivado.(David Jones)
Taticamente, Bruno Lage é um adepto do 4–4–2, variando em algumas ocasiões para o 4–2–3–1. Podemos citar como características interessantes enquanto estava no Benfica:
- Imposição sempre de uma rápida reação à perda da posse de bola. Sendo assim, a equipe irá pressionar imediatamente após perder a posse da bola, no entanto, não conseguindo recuperá-la imediatamente, a equipa reorganiza-se, adotando assim uma postura mais conservadora, com uma distância equilibrada entre jogadores e utilizando uma linha defensiva média ou alta;
- Ofensivamente utilizava as pontas para fazer transições rápidas que se beneficiam da desorganização do adversário. Os seus laterais jogam sempre muito profundos e dando bastante amplitude de jogo, sendo constantemente solicitados nos cruzamentos. Os volantes possuem qualidade de marcação e também para construir jogadas de ataque.
O vídeo abaixo mostra alguns aspectos do Benfica sob o comando do treinador.
Bruno Lage pode parecer ainda inexperiente em um desafio extremamente exigente como será o da Premier League, mas parece motivado e empenhado a montar uma equipe consistente na competição.
Contando com as atuais peças que tem no atual elenco (excluindo possíveis rumores de saídas de atletas como Rui Patrício ou Ruben Neves), deverá potencializar atletas como Fábio Silva, Leander Dendoncker, Pedro Neto, entre outros e quem sabe, colher bons frutos em seu segundo desafio como treinador a nível profissional.