Cair para recomeçar (ou não)

Os Outros 14 PL
5 min readMay 4, 2023

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Por: Bruno Bezerra

O rebaixamento do Southampton a EFL Championship é cada vez mais iminente. A última vez que o clube caiu para a segunda divisão foi na temporada 2004/05, retornando a elite apenas em 2012/13. Nesse meio tempo, muito ocorreu, mas a grande virada de chave foi o clube ter entrado em administração em 2008/09 e posteriormente a compra pelo empresário Markus Liebherr.

Após o falecimento de Markus em 2010, sua filha Katarina assumiu o clube que ao retornar a Premier League viveu um interessante período de reestruturação por completo, em categorias de base, elenco principal, estrutura, entre outros. O clube conseguiu ótimos resultados na elite, voltando a se classificar a competições europeias. Jogadores formados no clube foram vendidos (Lallana e Shaw)e outros foram contratados e se valorizaram (Mané e Van Dijk).

Após uma nova venda, agora para o empresário chinês Gao Jisheng em 2017 (cerca de 80%), era esperada uma nova estruturação e que o clube se firmasse como uma equipe minimamente competitiva na Premier League, o que não ocorreu.

“Não estou tratando o Southampton como um porco para ser engordado e vendido.”, Gao Jisheng em rara entrevista no ano de 2018.

O clube foi vendido novamente. Em janeiro de 2022, o bilionário sérvio Dragan Solak investiu cerca de 100 milhões de libras pelos 80% de Gao. A intenção de Solak ao lado de Rasmus Ankersen (CEO da Sports Republic, quee além do Southampton, conta com o Goztepe da Turquia) tem sido de uma estrutura semelhante ao do grupo que administra o Manchester City, com times satélites ao redor do mundo (Montevideo Torque, Girona, New York City, entre outros).

Ankersen tinha a experiência de ter sido diretor de futebol do Brentford, colaborando com o crescimento do clube e posterior acesso a Premier League. No Southampton, a janela de verão em 2022/23 seria fundamental para as pretensões do clube e a primeira sob gestão da Sports Republic.

Foram no total 10 reforços na primeira janela: Mateusz Lis, Gavin Bazunu, Romeo Lavia, Joe Aribo, Sekou Mara, Armel Bella-Kotchap, Juan Larios, Duje Caleta-Car, Samuel Edozie e Ainsley Maitland-Niles (empréstimo). Uma janela que dava otimismo a Hasenhüttl e aos torcedores, mas não foi bem o que se esperava. Vale lembrar, que o clube vendeu atletas mais experientes, como Oriol Romeu e Nathan Redmond.

Hasenhüttl foi demitido após não conseguir o impacto esperado com os reforços e veio o inexperiente Nathan Jones. Jones, que foi responsável pelo sucesso do modesto Luton Town gerou nenhuma melhora no time, apesar de ter chegado as semifinais da EFL Cup, passando por Manchester City e caindo para o Newcastle. Sem opções, a aposta no auxiliar Ruben Selles se mostrava a mais viável para salvar a temporada.

Selles iniciou bem, vencendo o Chelsea, mas assim como Jones e Hasenhüttl, extraiu muito pouco do elenco. Muitas ideias, mudanças táticas, substituições questionáveis, mais reforços na janela de inverno (Kamaldeen Sulemana, James Bree, Paul Onuachu, Mislav Orsic e Carlos Alcaraz) e o time seguindo seguindo como último colocado na Premier League. Selles é o menor dos culpados para um treinador sem experiência, em seu primeiro trabalho efetivo justo na Premier League.

Há alguns pontos a se analisar. Wolves e Aston Villa trocaram seus treinadores por nomes experientes, no caso Julen Lopetegui e Unai Emery, respectivamente. Ambos os times, ameaçados pela queda, estão tranquilos na tabela (no caso do Villa, vivo em busca de competições europeias). Por que não fazer isso após a demissão de Hasenhüttl?

Sobre os reforços, fora Alcaraz, Lavia e Bella-Kotchap, os demais geraram pouco impacto no plantel, por serem muito jovens ou por simplesmente não encaixarem nas propostas de jogo do time. Excesso de ideias, mudanças e nenhuma filosofia de jogo ou tática. O ataque segue como o ponto mais fraco do time, desde a saída de Danny Ings.

O rebaixamento pode indicar mudanças, em uma liga com exigências menores e com oportunidades para desenvolvimento de uma equipe tão jovem. O grande exemplo é o Burnley, que rompeu com o Kick and Rush de Sean Dyche e conquistou o acesso com um estilo de jogo visando a posse de bola de Vincent Kompany, contratando atletas jovens e desenvolvendo-os na segunda divisão, entre eles um velho conhecido do Southampton: Nathan Tella, emprestado pelos Saints e destaque da competição pelos Clarets.

De fato, muitos jogadores deixarão o time com a queda, inclusive o capitão James Ward-Prowse. Mas a grande questão fica por conta de quem será o novo treinador para a Championship 2023/24. Investir em um treinador jovem, um medalhão ou ainda insistir em uma aposta?

Fazer o bate-volta pode ser fácil, assim como foi com o Burnley. Porém, cair e permanecer, como foi com Stoke City e Swansea, times que sempre foram de meio de tabela na elite e hoje são de meio de tabela na Championship, também. Ou ainda há o lado mais obscuro que ocorreu com Sunderland e Blackburn, que caíram para a terceira divisão.

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A Premier League fora do Big Six, com análises, curiosidades e podcast.

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