Como o Newcastle United foi vendido

Os Outros 14 PL
4 min readOct 9, 2021

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Por: Lucas Barboza

Na última quinta-feira, a venda do Newcastle United Football Club foi concluída, encerrando uma saga que durava quase 18 meses. O comprador é um consórcio formado pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita, PCP Capital Partners e a RB Sports & Media. O negócio teria custado em torno de 300 milhões de libras.

Desde abril de 2020, estava tudo acertado entre o consórcio e Mike Ashley, agora, ex-proprietário do clube, inclusive, havia sido pago um depósito de 17 milhões de libras para que o consórcio tivesse acesso a todos os documentos do clube e um período de exclusividade.

Segundo Amanda Staveley, ela foi informada que a aprovação da compra, que é nada mais nada menos do que uma análise realizada pela Premier League, não duraria mais que um mês, porém, um imprevisto foi determinante para que o negócio quase não saísse: pirataria.

Desde 2017, a Arábia Saudita liderava um boicote ao Catar, vizinho no Golfo Pérsico, que era acusado de financiar grupos terroristas na região. Sendo assim, vários serviços de Doha foram proibidos de operar em Ríade, incluindo a beIN Sports, o maior canal esportivo do Oriente Médio e Leste da África, que é justamente o maior parceiro internacional da Premier League. Com o sinal proibido no território saudita, foi criado o “beoutQ”, um aparelho de IPTV que pirateava o sinal do canal.

Obviamente, a repercussão foi negativa. Ligas europeias de futebol chegaram a levar o caso para a FIFA, e um processo formal contra a Arábia Saudita foi iniciado na Organização Mundial de Comércio, onde ficou constatado que o governo saudita promovia e apoiava o roubo do sinal.

Então, durante a análise da venda, a beIN Sports explicou o caso aos outros 19 clubes que estavam na Premier League na época e pediu que eles se unissem para impedir a venda do Newcastle United. De fato, era muito improvável que a liga aprovasse um negócio nesse contexto.

Por isso, a Premier League alegou que não estava claro quem de fato teria poder sobre o clube: se era o Fundo de Investimento Público ou o próprio governo da Arábia Saudita. Se fosse o Fundo, não haveria problema, mas se fosse o governo, a situação da pirataria melaria o negócio.

Em julho de 2020, o consórcio anunciou que estava retirando a proposta, afirmando que com a demora da aprovação, o negócio teria que ser repensado. O Newcastle United agiu de forma diferente: disse que a Premier League não aprovou, algo que a liga sempre negou, se defendendo que não havia recebido provas concretas de que não haveria interferência estatal no clube.

Nesse imbróglio, o clube levou a Premier League duas vezes a Justiça: no primeiro processo, o de arbitragem, uma comissão definiria se o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita é independente ou não do Estado saudita. No segundo processo, Mike Ashley pedia indenização da Premier League por não ter aprovado a venda do clube.

A expectativa era que durante a última janela de transferências, o processo de arbitragem ocorresse, mas por falta de provas, de ambos os lados, a primeira audiência foi adiada para o início de 2022, o que frustrou Mike Ashley, que estava desde o ano interior pronto para se desfazer do clube, e mais ainda os torcedores, que já estavam 14 anos aturando o empresário.

Enquanto isso, o segundo processo seguiu. O clube alegou que a Premier League agiu contra as leis de concorrência da Inglaterra, e que o clube havia se desvalorizado em mais de 10 milhões de libras. A Premier League respondeu que seguiu todo o protocolo, e que se o processo de arbitragem fosse favorável ao clube, a venda poderia ser aprovada, enquanto isso, o Newcastle United alegava que não havia garantiras que o consórcio esperaria até janeiro por uma resolução.

Mas o que ninguém sabia é que estavam havendo conversas secretas entre a ala saudita do negócio e a Premier League. Segundo o Telegraph, os sauditas entraram em contato com a Premier League e perguntaram o que precisava ser feito para a venda ser concluída. Algumas fontes dizem que a liga recebeu provas de que não haveria interferência estatal no clube, comprovando a independência do Fundo, porém, outras dizem que foi a pirataria que solucionou o negócio.

Na última quarta, a beIN Sports anunciou que a Arábia Saudita estava encerrando a proibição das operações do canal no país e que a indenização de 1 bilhão de libras, pedida pela empresa, também estava sendo resolvida. Sem o problema da pirataria, se tornou irrelevante quem de fato vai tomar as decisões do clube.

Pouco mais de 24 horas depois, o dinheiro foi depositado, as ações tranferidas, e às 13h18 do dia 7 de outubro de 2021, uma nova era começou no Newcastle United Football Club.

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